A segunda edição de Sobreviventes do Césio 137 cumpre a função de atualização e redimensionamento de informações acerca de uma história que se iniciou em setembro de 1987 e que ainda não terminou.
Três décadas se passaram e, somente com distanciamento no tempo/espaço, nos será permitido compreender aspectos relevantes que estão vindo à superfície, à medida que esse terrível desastre radiológico ocorrido no planeta Terra vai ganhando contornos mais humanizados. O livro de Carla Lacerda, com o apoio do colega jornalista Yago Sales, colabora para este momento analítico.
A partir da leitura sensível da trajetória das vítimas do césio 137, em Goiás, percebe-se que a rota de contaminação primária é afetiva. Note que o pó de luz azulada foi ofertado a quem se queria bem e apresentado a quem se desejava compartilhar o surpreendente, o inusitado. Leitoras e leitores que compreendem esta relação serão mais capazes de manifestar compaixão e respeito pelo episódio ocorrido e pelas pessoas envolvidas nesta teia.
Numa história que menciona o nome de muitos homens, a autora também traz à luz o protagonismo de uma mulher, Maria Gabriela Ferreira, a primeira vítima fatal do césio 137. Testemunhos publicados neste livro relatam seus esforços na busca por solução do problema de saúde que, inicialmente, abatia a sua família. Mas também atribuem a ela a autoria do gesto que obrigou o poder público a se manifestar oficialmente acerca do acidente radiológico – a entrega de destroços do equipamento de raio-X violado, na Vigilância Sanitária de Goiânia. Para isso, contou com a ajuda de outro bravo, Geraldo Guilherme da Silva. Pela determinação e pelo zelo com o coletivo, gratidão e apreço.
Neste contexto de revelações sutis, a Nega Lilu Editora tem grande prazer de colaborar para que a segunda edição de Sobreviventes do Césio 137 cumpra mais uma etapa de sensibilização, mobilização, esclarecimento da sociedade.
A narrativa cromática evanescente que abre este livro alerta para a necessidade do registro do discurso não oficial, não institucional contra o apagamento da memória. De outra maneira, entendemos também este passeio dos olhos pelo azul como expressão do desejo pela descontaminação de todo o preconceito e discriminação que impactam a história de vida das pessoas envolvidas no acidente.
(texto da editora Larissa Mundim, originalmente publicado na apresentação do livro Sobreviventes do Césio 137, publicado pelo Selo Eclea da Nega Lilu Editora)